terça-feira, 23 de agosto de 2011

Meu par

E o dia 31 se aproxima.
As músicas saem do caderninho. "Gasolina" já deixou de ser mensagem de celular pra estar na rede:
www.soundcloud.com/pedrogranato

E devo acima de tudo agradecer à minha querida companheira, amada, parceira, meu pilar, meu par:


Meu Par
 
Já perdi a voz e não parei de cantar
Já quis me jogar lá do sétimo andar
Fui pra muito longe
Mas voltei pra contar
Porque no fim da festa
Explodiu meu
Lar
Me perdi
Vou buscar

E aonde cheguei
não vou voltar
Mas pra viver preciso amar
pois pra viver, cresci

Já quis me manter e não parei de mudar
Já quis me mandar, mas fixei no lugar
Fui pro fim do túnel
Não tinha luz
Pra me tirar
De lá
Me afundei
No mal-estar

E mais ninguém
Vai me alcançar
Mas pra viver preciso amar
pois pra viver, cresci

E no escuro
Ergui um muro
Pra me impedir de amar
Até você chegar
Meu par
te convidei pra dançar

E com você
Eu vou ficar
Pois pra viver preciso amar
Pra viver preciso
Um par.


O peso de cada lágrima


Meninos não choram, essa é velha. Mas segue encrustrado na minha formação essa dificuldade em simplesmente deixar as águas rolarem. Todo o processo dessas músicas, apesar de "incendiárias", foram permeados por momentos como esse.
"Tristeza não tem fim, felicidade sim". É cada vez mais eu dou o braço pra torcer pro macaco velho Vinícius de Moraes.


Pode deixar
vou valorizar
cada lágrima

você vai ler
quando eu virar
essa página

o peso que saiu das minhas costas
me mostra agora o quanto você gosta de mim
esse não é o meu fim
vou recomeçar

pode deixar
vou me livrar
de quem te magoar

fica comigo
pois o perigo
não dá pra evitar
vamos ter que nos superar
até ficar em paz

você vai cair
e se levantar
vão se vender
tentar te comprar
mas vamos viver
sem nos separar
de nós

pode deixar
vou iluminar
esse seu olhar
e sem estrelas
no escuro do lar
você vai estar

em paz

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Coração Artificial

Às vezes a nova arte que se faz por essas terras é tão edificante que me sinto numa propaganda de refrigerante. Ou na missa de domingo que eu nunca fui. Talvez seja culpa do meu coração, esse músculo que bombeia sangue pro meu corpo e não consegue ser tão liso, sem arestas. Fico com a constante sensação de superficialidade ao ouvir por tantas vezes a palavra amor falada como quem quer se livrar de todas preocupações. Vestida com roupas antiquadas de tempos inventados, em cidades que não existem. Afinal de contas, não existe amor em sp ou não existem essas cidades idealizadas do amor? Paris não é só a torre eiffel. Na era desses extremismos de tempero religioso sigo sentindo que tem algo fora de lugar. Talvez eu.
Mas não estamos nós constantemente fora de lugar? Ou a música quer ser o confort plus que te envolve com a falsa sensação de conforto?
E se não tivesse o amor e se não tivesse o sofrer, melhor era tudo se acabar?
Adoro músicas sensíveis que muitas vezes dão colo, trazem poesia mas sem ignorar o peso, a densidade dos sentimentos. Me irrita a arte que é feita inteira com sorrisos publicitários assim como me irrita quem gosta de vender a melancolia. A pose calculada de tristeza. Porque as duas se assemelham e se aproximam da artificialidade.
Ai vai uma música feita durante uma febre e a descoberta do amor:

FATAL

forte como a tosse que acaba com meus nervos
quente como a febre que interrompe pesadelos
chulo como a puta que pra todos se insinua
certeiro como a morte, fim de todos seus anseios

fatal
o amor é fatal

pra alguns é doce
formoso e frágil como uma flor
um paraíso, iluminado
sem sentir dor

mas ele vem de foice
ele dá um coice
o amor na prática
é sado-masô

fatal
o amor é fatal

o amor é uma doença contagiosa
por contato
passa pela boca, pelo corpo, pelo olfato
veneno de aparência duvidosa
queima por dentro de suas veias
atrai o que você odeia
te mostra e te assemelha
e sussura quente em sua orelha
- nunca me abandone.


foto que chegou por Ricardo Apparicio

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O DISCO MAIS ESPERADO DO ANO

O DISCO MAIS ESPERADO DO ANO
Eu já tinha ficado bem assustado quando estava ouvindo a trilha de Vertigo e gritaram "Lady Gaga!".
Estava ileso de ouvir a nova 'basura' que a rainha dos tempos-pós-pós-pós lançou.
Mas ai passei por um viral e acabei ouvindo, e era uma cópia fiel de "Express Yourself" da Madonna.
Com a diferença que é aquele urubu passeando de biquini. E li mais de uma vez por ai que é o disco mais esperado do ano. Só se for o disco voador que ela vai botar na cabeça.

VAZOU O NOVO DISCO...
Outra farsa de nossos tempos são esses "vazamentos" de discos. É tão planejado que daqui há pouco vai ter show de vazamento com clipe pronto.
Tudo bem, já que agora ninguém mais compra cd - a não ser esse neo-fetichista aqui, que sofre em ouvir música baixada em alto falante de laptop. É tudo pela internet, sem formato... O termo vazamento é mesmo mais apropriado.

OS DIREITOS SÃO DE DIREITA?
Agora tem uma unanimidade burra (não seria isso uma redundância, tio Nelson?) sobre direitos autorais por ai. O buraco é muito mais embaixo do que "cultura é bem universal, todo mundo pega de graça". Então quem trabalha com isso faz  bolhinha de sabão? Sou absolutamente a favor da defesa dos direitos autorais. Acho sim super complicada a lógica disseminada de que ninguém mais deve pagar por discos. E isso não é um argumento de direita.
Contra fatos não há argumentos, as pessoas baixam. Mas eu me dou o direito de nadar contra a corrente. Se comida, bebida e até atendimento médico são fundamentais e são cobrados, pque a criação artística tem que ser distribuída gratuitamente? Onde baixa horas no estúdio, músicos, impressão de capa, mixagem, masterização? Quem paga a conta? A educação tem que ser pública e de qualidade e pra isso, tem que pagar o professor.
Agora muito diferente de defender os direitos é defender a atual entidade que é "responsável" por isso, o famigerado ECAD. Mas ai vamos com uma lógica bem brasileira de legislar: se o que existe não funciona direito, põe abaixo ou exagera. Se as pessoas não respeitam a proibição de beber e dirigir, aumenta o limite ao invés de mexer na fiscalização. Espetaculariza. Afinal ninguém, nem mesmo um candidato a presidente, vai seguir à risca. É só pra assustar.

OS NOMENALISTAS
Como inventar muitas vezes é dar nome ao que já existe, venho batizar o mais abrangente movimento cultural de nosso país: Os Nome-na-listas. Varre todas as artes. Não sei se vcs já perceberam mas não é nada comum donos de lojas de roupas, restaurantes darem convites por ai. Mas todo mundo quer um convitinho pra algum show/peça. Acho que o nominalismo tem um pé na cultura de que baixar cultura é algo inquestionável.
Os Nomenalistas é um termo que também abrange a febre por outro tipo de lista: as de melhores. Acho que a Jovem Pan fez a cabeça do jornalismo cultural e todo mundo tem suas sete melhores. Não é papo de bichamarga, que de lista só está no analista. Eu sei que parece, mas não é. Eu não sou um NOMENALISTA. Ou melhor, sou sim. Trabalho com isso, pode colocar meu nome na porta que eu vou com prazer.

OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE
Eu poderia citar grandes pensadores, críticos de arte, mas em tempos de redes sociais, resuma em 140 caracteres o seu caráter. Colocar esse padrão de competitividade, de melhor, segundo pior é uma absoluta desconsideração à subjetividade. Você desconsiderar a subjetividade no atletismo, na matemática é uma coisa. Agora desconsiderar a subjetividade nas artes é um atentado grave, porque é a essência da própria arte. A arte é expressão de subjetividades, de múltiplas visões, sensibilidades. Qualquer um pode gostar muito de discos diferentes, de forma diferente. Em fases diferentes. O título não é uma agressão, é uma citação. Dá uma "gugada"...


Eu que me deparo com um novo disco pela frente, já penso: o que fazer com esse formato? Vazar? Baixar? Por enquanto escrevo, componho e gravo, o "exército de um homem só" encontrando seus parceiros. Afinal é impossível ser feliz sozinho, e essa história de misturar vinho com café no jantar tira sono... e põe fogo no coração.

sábado, 9 de abril de 2011

Da arte de falar bem

Essa era pra ser uma música pra cima.
Acabou um pouco melancólica, mas acho que preserva aquele estado sutil de alegria.



Brilho no Escuro

Pode deixar vou valorizar cada lágrima
Você vai ler quando eu virar essa página
o peso que saiu das minhas costas
me mostra agora o quanto você gosta de mim
esse não é o meu fim
vou recomeçar

Pode deixar vou me livrar de quem te magoar
fica comigo pois o perigo não dá pra evitar
vamos nos superar até ficar
em paz

Você vai cair
e se levantar
vão se vender
tentar te comprar
vamos viver
sem nos separar
de nós

Pode deixar vou te iluminar quando a luz faltar
e sem estrelas com brilho no olhar, você vai estar
em paz

segunda-feira, 28 de março de 2011

Caça às Bruxas

Há muito tempo que se critica a Lei Rouanet. Agora começou a caça às bruxas e começaram pela Bethânia. O Bradesco apoiando o Cirque du Soleil com quase 10 milhões aprovados de isenção de imposto (dinheiro público) não fez metade do barulho. Afinal se a Bethânia não precisa de apoio público, que dizer do Bradesco? E do pobre circo internacional, com ingressos a singelos R$370?
Uma distorção não justifica a outra, mas evidencia possíveis interessados no ataque. Até hoje, quem atacava a Lei Rouanet era acusado de "dirigismo cultural". Por querer que os mecanismos de incentivo e suporte a cultura saíssem dos balcões dos bancos e empresas de amigos para editais com visibilidade pública. E quem criticava? A Globo, a Veja... Esses órgãos que passam longe de exercer seu "dirigismo cultural" o quanto podem (sic).
Agora muitos aderiram ao ataque à Lei Rouanet não nos seus bichos papões, mas nos ex-bicho grilos. Ricos agora e que não precisam de tanto apoio público. Digo tanto porque a arte precisa de apoio público sim. Sem dinheiro público é dificil manter casas de cultura, fazer pesquisa, publicar conteúdo pagando seus autores de maneira gratuita.
Ninguém estranha que os cinemas, teatros, casas de show tenham todos nome de banco? Isso pode parecer uma bondade dos maiores fazedores de dinheiro de atualmente, mas é marketing bancado com dinheiro público. E se não fosse esse dinheiro público, provavelmente esses espaços estariam fechados ou em pior condição.
Só que como a condição geral dos artistas brasileiros ainda é infelizmente muito frágil, um exemplo desses serve perfeitamente pra criar um bode expiatório. Todos jogam suas frustrações e salários mal pagos na fogueira que pretende queimar as bruxas muito bem remuneradas. Mas esse fogo pode destruir mais que se imagina.
O que deveria estar em questão são modos mais democráticos e descentralizadores de espalhar esses incentivos. E esse é o questionamento sobre a Lei Rouanet. Não seu linchamento sem algo que a substitua e melhore.
Que bom que as empresas querem patrocinar cultura, o estado deve incentivar. Mas elas também devem botar a mão no bolso.
E o estado tem que botar a mão no bolso para que uma legião de pessoas que trabalha incessantemente por bens culturais que são apreciados por todos, muitas vezes de graça, na rede, tenham condição de fazer o seu trabalho. E que existam espaços e estrutura para público e artistas trocarem.
Quando quiseram simplesmente por abaixo a Embrafilme sem nada que a substituísse, o cinema brasileiro parou. Apenas um filme no ano, realizado por um bom diretor com um uni(co) banco por trás. E na época da Embrafilme, o cinema brasileiro chegou a ter 30% das bilheterias, fato histórico que estamos nos aproximando novamente. Ou seja, é necessário apoio público para que o público tenha direito de selecionar o que gosta. É o oposto de dirigismo cultural: é defender a multiplicidade cultural.
A caça as bruxas e o debate histérico (pra não chamar de linchamento) esconde as maiores questões em toda essa polêmica. A reforma da lei é urgente assim como o apoio estatal às artes. Cultura é como educação e saúde: não pode ficar nas mãos dos bancos, nem no banco dos réus.

maravilhosa capa do cd de Thom Yorke "the Eraser"

segunda-feira, 14 de março de 2011

Perto e Distante

Assino uma parceria com Tiê em seu novo disco "A coruja e o coração". Fizemos a música a partir de uma idéia inicial dela, em uma tarde revezando quem ninava a Liz e quem escrevia. Ela tinha essa melodia crescente para o refrão (que posteriormente foi alterada com ou pelo produtor Plinio Profeta) e algumas idéias e frases antigas sobre a incomunicabilidade. De cara, em um recurso metalinguístico, achei que a questão ficava mais palpável na relação com alguém.
Então jogamos pra dentro de um casal, as diferenças em que mesmo estando muito próximos, estamos distantes - o que justifica a aparente contradição do título da música. Posteriormente, pra minha alegria Jorge Drexler (cantor e compositor uruguaio que lançou recentemente o belo disco "Amar la trama", cheio de belíssimos arranjos de metal e letras bem trabalhadas) entrou na música que se tornou um singelo dueto. O refrão perdeu sua melodia crescente e catártica e se tornou mais cool. O sopro ainda cumpre um pouco esse papel, mas a versão original tem um charme especial. Abrindo também o processo dessa canção, vejam o video que a Tiê me mandou logo após nossa sessão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Caminante no hay camino, se hace camino al andar

Mostrar músicas ainda não finalizadas e cheias de imperfeição é uma coisa questionável. Eu mesmo me questionei antes de começar a fazer isso. Estou indo na contramão das "regras do jogo" em que tudo é meticulosamente (pra não dizer maquiavelicamente) planejado, estruturado, tratado, corrigido. Músicas sem arestas, produtos fechados. Digamos que a Lady Gaga tem uma "casa de criadores" só pra estudar quais seus próximos passos, roupas, escândalos, polêmicas e músicas (?).
Tenho vontade de abrir o processo por ser uma desconstrução pessoal e um desabafo com o estado das coisas. Cantar e compor já é muita exposição. E muitas dessas canções surgiram como uma expressão tão solitária que o processo de levá-las ao público é longo e denso. Mais exposição, mas não é essa a essência de um trabalho autoral?
Pra que convidá-los só no final?

terça-feira, 8 de março de 2011

Selva de Espelhos

Aproveitando o suspiro carnavalesco e a cidade vazia, liguei o amplificador e cheguei perto da forma final dessa canção. Aqui vai um primeiro video, de celular, com a imprecisão e a pureza de um recém-nascido.



Há uma fera na selva
que precisa sair
tem algo feio enterrado
dentro de mim
essa é a resposta tardia pra sua falta de tato
esse é meu estômago ferido por ser enganado
por sua fotocópia

sua fotocópia de declaração de amor
sua fotocópia de declaração de amor

eu sou o cisne negro
que te sorri por trás do espelho
seu tumor maligno
dos seus amores mal vividos
eu sou a sombra triste
eu sou a assombração do seu filme de terror

sua fotocópia de declaração de amor
sua fotocópia de declaração de amor

eu sou a carapuça
que hoje você usa
eu vou abrir a jaula
minha voz você não cala...

com sua fotocópia
de declaração de amor

domingo, 27 de fevereiro de 2011

pause

Escrevo esse post no metro após uma filmagem no cemiterio e antes de uma apresentação na rua. Graças à chuva ganhei um respiro. Workaholic? Sim, mas se quer construir sua carreira com arte no brasil, pelo menos por um bom tempo, não há muita escolha. Talvez um berço de ouro ou vender a sua criatividade pra publicidade...
Eu que me encaixo no perfil, vivo a sensação continua de emendar, sobrepor e alternar um projeto no outro. Coisa de louco, uma industria cultural introjetada bem distante da boa vida de ócio imaginada aos artistas. E são paulo, com seu ritmo frenético, sua dissonância com o tempo natural e seu variado cardápio cultural é um perfeito cenário pra esse frenesi real.
Comecei uma música-desabafo que ainda ganhará muitos verbos. espero ter tempo para cantar, gravar e para terminar...

Levo a vida ligado no 220
Esperando chegar o momento seguinte
Tentando ultrapassar o meu proprio limite
Não posso parar
Não posso mudar
Cada instante que eu paro está me faltando ar

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um anjo negro dançando no escuro

Misturando duas grandes obras no título posso começar a falar de outro filme do Daren Aronofsky, o polêmico CISNE NEGRO. Ele nem era um dos diretores que mais me interessavam, teve filmes inclusive que parei no meio. Mas nesse recém-nascido blog é a segunda menção a um filme dele. Também porque ele volta a alguns temas de "O Lutador" como a mescla entre vida e palco, fracasso/ sucesso, realização e morte. Mas esse filme tem algo de muito mais perturbador. Ele leva o espectador aos limites de um jogo de sombras, a tal ponto de rachar a plateia. Porque muitas pessoas simplesmente não se deixam levar pelos delirios imagéticos, pelo peso assumidamente barroco da narrativa e rejeitam o filme. Mas essa ousadia de se propor nitidamente aventuras estéticas, de sair do lugar comum, de aceitar tanto a vaia quanto o aplauso é maravilhosa.
Me lembra o tour de force de "Dançando no Escuro", pra mim uma obra-prima em todos os quesitos. Tem o efeito do teatro desagradável de Nelson Rodrigues, suas peças míticas que chegaram a levar gigantescas vaias antes de se tornarem clássicos.
Há muito tempo não sai do cinema tão provocado. Pela força das imagens, pelos abusos kitsch da direção de arte e pela liberdade de encarar as vísceras de uma história de balé já tão batida. Ele mistura a maldição do "Lago dos Cisnes" com a vida da bailarina-princesa. Um arquétipo poderosíssimo da busca anoréxica pela perfeição dos dias de hoje.
Opondo esse modelo vendido até hoje por todos os lados da mocinha de rosinha, perfeita, magérrima, que se encaixa em vestes para desempenhar como uma máquina suas partituras com outro arquétipo muito comum: a femme fatale. Aquela que faz tudo pra conseguir o que quer e usa o sexo pra manipular e conseguir poder.
Nenhuma novidade?
Mas esses vampiros andam a solta, buscando papel principal de diretores consagrados, capas de caderno de cultura, programas de tv, já vi milhares com os mais diferentes disfarces... Não vê quem não quer. Ou quem ainda não quebrou sua redoma de princesa. E o filme resolve escancarar isso de modo expressionista. Aos limites do suportável e nisso ele faz uma dramaturgia simbólica e sentimental. O que guia as ações não são simples causa e efeito, mas a atmosfera sufocante dessa competição desenfreada, dessa busca violenta por um lugar ao sol artificial de um palco vazio.
Bem, já tinha uma letra que ando trabalhando e que vai bem por ai. Voltei do cinema, embrulhado por uma infecção alimentar que me derrubaria alguns dias e fui trabalhar na música.

Você sempre quer o sucesso
faz de tudo pelo sucesso
você faz sexo, perde o nexo,
você faz tudo pra dar certo

tem uma fera na selva que precisa sair
tem algo enterrado
roendo dentro de mim
essa é a resposta tardia ao seu teatro sem palco
este é meu estômago ferido por ser enganado por

sua fotocópia
de declaração de amor

sou o cisne negro
que sorri por trás do espelho
sou um tumor maligno
de seus amores mal-vividos
sou a sombra triste
sou a assombração do seu filme de terror
sou a carapuça
que foi feita sob medida pra

sua fotocópia
de declaração de amor

obs: Quanto ao final do filme, uma pessoa que fez uma figura como Berlam cantar "Morte no Palco" acho que deve ter gostado bastante...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Como os nossos pais

Uma coisa típica desse "era" pós-moderna (isso é uma era, ou apenas um hiato no tempo?) é o excesso de referências. Tudo vem descrito através de referências. Como se propostas estéticas só fossem válidas se alguém já tivesse feito antes. Olhem que curiosa inversão de valores... Qualquer release e matéria desfila comparações com artistas consagrados. Como se estivessemos em uma daquelas reuniões publicitárias em que se escolhe que cara vai ter o produto através de outros produtos de sucesso. E não estamos?
É claro que compor é um processo dificílimo, e a música tem padrões repetidos desde que o mundo é mundo. É inevitável que vc repita algum padrão, mesmo involuntariamente. Mas muitas vezes eu ouço músicas como se elas fossem uma versão de uma música já feita. Como fazem em campanhas de publicidade mesmo.
A diferença é que a repetição muitas vezes prima pelo efeito e peca pelo conteúdo. Uma coisa é soar como Johny Cash em um estudio. Outra é ter o efeito sendo criado. Comprei recentemente o disco ao vivo dele na cadeia "at Folsom´s Prison" e é muito provocador. Os que hoje representam um clássico, já foram vanguarda. E agora soamos como clássicos.
A banda mais incensada atualmente é... Beatles. Que já acabaram há mais de 3 décadas.
Bom sinal de que a boa música permanece? Sim. Mas mal sinal de que a música não tem se reinventado muito. Os Beatles já estiveram no auge em seu tempo, falando de seu tempo. John Lennon e seus afiados discursos que o digam.
Citando, quem diria (!), uma capa da veja, vivemos em tempos bons moços. Ou de lobos disfarçados de cordeiros, de novas madonnas e velhos heróis cristianizados. Quem ousa romper com a nossa recente tradição de Caetano, Roberto, Chico ou Bob Dylan, Lennon, Stones?
Nossos heróis são nossos pais. E a música que eles fizeram e eles ouviram.
Já eles, pra ser quem são, desobedeceram bastante os deles.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

God save the King

Este "exército de um homem só" segue seu propósito de ser uma forma sincera e direta de criação, produção e reflexão. Em tempos de falência das gravadoras, vivemos a apologia ao 'low profile'. Como se os artistas por ai fossem "pérolas" brutas, puras a serem espontaneamente reveladas. Sem ingenuidade, a internet é uma grande rede de interesses e destaques planejados. Diz isso uma pessoa que já teve programa em um portal e sabe como se fazem 100 mil views em um mês. A diferença que um banner no myspace ou no youtube faz é gigantesca. A diferença de uma "invisível" assessoria de imprensa é enorme.
E me parece que ingenuidade é o que mais andamos perdendo por ai. Os artistas tem introjetado em si mesmo os departamentos de marketing, a assessoria e relações publicas das majors. Se antes um artista mainstream da MPB podia se enforcar em excessos enquanto a gravadora cumpria seu trabalho, hoje  estamos - de maneira mais madura - órfãos. Mas isso inclui uma busca mais ávida por relações políticas  no sentido negativo da palavra dentro circuito musical.
O que isso gera em termos artísticos é uma certa anemia. Mesmo com uma multiplicidade de novos talentos e propostas, parece que a necessidade de estar cumprindo todas as funções ao mesmo tempo acaba por tornar a arte de nosso tempo mais receosa, melancólica e apegada a referências.
É muito simbólico que Roberto Carlos tenha se tornado praticamente uma unanimidade nos dias de hoje.  De inimigo da esquerda dos anos 60, a vedete de especial de natal da rede globo (quer coisa mais conservadora que isso?) ele simboliza o artista que não fez concessões pra chegar ao mainstream.
Em termos políticos, estéticos e práticos.
Sua habilidade pra compor músicas intimistas nublou a mediocridade de seu vicio automotivo (metade de seu disco acústico são apologias ao carro), sua nulidade política, sua adesão completa ao que existe de mais cafona e conservador na televisão brasileira.
Os heróis de hoje não morreram de overdose, mas estão no poder, no especial da globo. Como se a ausência de gravadoras onipotentes tivesse despertado um instinto de sobrevivência em que a rebeldia e o aspecto provocador sejam um empecílio.
Buscando o primeiro lugar nos milhares de rankings que se multiplicam.
transformando um pouco disso em letra:

Está na regra desse jogo
escorre da boca do povo


É cada um por si ao fim
e você deve aproveitar do outro
discurso sem recheio
pra ver quem vai primeiro
sorriso até o meio da boca


nossa vida está em jogo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Gasolina

Tai, comecei a gravar algumas coisas com meu parceiríssimo Fil Pinheiro. A primeira música é "Gasolina", que já foi mensagem de celular. Em breve estará na rede e é muito interessante ver como algo que começou de maneira tão íntima pode tornar-se música para todos os ouvidos. Acho que esse também é o proposito desse blog, começar a desafogar muito material que viveu em minha cabeça. Também compus com a queridíssima amiga Tiê uma música pro seu novo disco e hoje tive uma rápida conversa sobre esse processo de gestação. O tempo e o clima em que as músicas ficam orbitando nossa vida até virar um cd e qualquer um poder ouvir aquilo e tomar pra si.
Com relação a todo meu trabalho como "Berlam" que muita gente acha que sou eu até hoje. Essa mistura de linguagens ainda vai demorar a ser entendida, é importante que as pessoas me vejam cantando e compondo pra entender toda proposta do Berlam. Uma persona, um personagem é algo comum pras pessoas de teatro mas quase incompreensível pro meio musical.
E pensar quando começaram e onde foram feitas as músicas do Berlam, algumas há mais de 4 anos como "Carnaval Baixo Astral" me dão a nitida sensação que essa história está apenas começando.
Tenho muita gasolina pra rodar...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Lona

Esse é o titulo de uma das músicas. Já imagino ela com um clipe num ringue de boxe, dois amantes se quebrando inteiros. Ou com aquele clima do magnífico "Lutador", filme que virou de cabeceira. Acho que é cada vez mais comum pensarmos nos videos das músicas, ou as músicas serem criadas a partir de imagens. Essa por exemplo é altamente inspiradora. Essas luzes por trás que ainda sugerem uma atmosfera de show...


tai um tipo de imagem que eu sempre gosto. a tradicional camera que pega o artista pelas costas e mostra a plateia à sua frente. é uma sensação que quem está no palco tem claramente e é incrivel imaginar-se na pele de tantos outros. Tem uma sequencia em "Piaf" em que esse recurso é usado magistralmente. Fundindo o momento de profunda dor vivido por ela e o que ela levou isso ao palco. Catarse.

Aqui um trecho da música. Para um dia ser cantada em um ringue:

Onde está seu amor?
Pois o pano caiu
você deu o seu show
mas no fim
ninguém aplaudiu
e não vou ser eu
que vou te seguir


eu vou sorrir ao ver você cair no chão


sua festa acabou
no chão

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Fogo no Coração

Qual saída de emergência
pro fogo no coração?
porque depois que tudo queima
a gente perde a razão

o que apaga o incêndio?
lágrimas no colchão
porque agora nossa cama
perdeu chama, corpo e paixão

eu acho que eu preciso ir
prum hospital do coração
minhas palavras perdem força
já não sei como é comoção

eu acho que eu preciso ir
prum hospital do coração
minha cabeça pede rumo
já não sei o que é emoção

não adianta insistir
quando alguém quer sair
abra a porta da tristeza
e deixa cair
a lágrima
que apaga o incêndio
a lágrima
que afoga o corpo inteiro

eu acho que eu preciso ir
prum hospital do coração
para bombear
para bombear
meu coração

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Incendiário

Nesses tempos e nessas músicas eu fiquei bem marcado pela imagem de fogo. E pela palavra "coração". Literalmente marcado, pque essas duas figuras se misturam no meu braço há mais de um ano. Poderia chamar um junguiano, um católico e um místico pra comentar os simbolos contidos no fogo. Mas pra mim é uma relação acima de tudo visceral. Outro dia tive um pesadelo bem simbólico de tudo que se passou comigo nos últimos tempos, em que eu explodia um lugar que estava, cheio de figuras conhecidas. Depois, escapando como um incendiário acabei entrando em uma aeronave que sofria toda sorte de acidentes, pousos forçados. Aquela passagem do Clube da Luta em que ele manda o apartamento pelos ares fez muito mais sentido. 
Já o coração, esse clichê que emoldura o romantismo e as comédias românticas (com todas suas diferenças) é esse órgão elástico que realmente põe fogo nas veias. Já senti dores no coração, fisicamente, e sua força é central em momentos de transformação, crescimento, tristeza. Definitivamente essas músicas vão sendo feitas muito mais para desafogar o coração que com malabarismo mentais.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Blecaute

ao vivo em portugal, música do filme "José e Pilar"

Bang Bang

(Anna Turra e Pedro Granato)

Tem tanta coisa escondida aqui
que quando tudo explodir
vai ser um monte
de tralha abandonada
de vida mal-passada
de nada
obrigado, de nada
sim eu te procurei
e te encontrei num filme de
bang bang

aquele tiroteio foi num dia qualquer
que prometia um jantar
você veio até minha casa
e seu papo vazio
foi enchendo o meu saco...

só que eu estava carregado

pode sair que eu vou embora
não olhe pra trás que eu atiro
e pode ser agora

Bang! Bang! Bang! Bang!
filme de bang bang
agora nosso amor está manchado de sangue

domingo, 2 de janeiro de 2011

Caem as máscaras

Você que me invejou por toda vida
vai invejar também minhas feridas
vai achar que toda a minha saída
foi só mais um jogo de cena?

Caem as máscaras da parede
agora se encara de frente
será que você não sente
o peso do seu coração?

seu defeito mais alegre
por mais que sempre negue
não sei como é que consegue
viver usando o outro ao seu lado

agora se olha no espelho
no vazio da sua casa
já não sou mais vidraça
tira a máscara
e fracassa.

Abrindo os trabalhos

Aqui vou exercitar esse "exército de um homem só" que é escrever e compor as músicas de meu novo trabalho. Após alguns anos compondo em parceria e trabalhando com uma banda larga e a persona de Berlam à frente, resolvi fazer um trabalho solo e de cara limpa. Francamente mais confessional, intimista e sentimental. Em breve essas letras se tornarão música aos seus ouvidos, mas por enquanto aproveito o espaço virtual pra preparar esse debut. 

O Exército de um Homem Só

Sei que estou sozinho
e complicado é meu caminho
trago feridas expostas e poucas respostas
estou incerto, inseguro
perdido
está deserto, escuro
mas estou vivo

Então vem
que eu sou o exército de um homem só

Estou desarmado e cansado de atacar
eu só queria encontrar o meu lugar
para baixar a guarda
para arrancar o fardo
e descansar
finalmente
ao seu lado

Então vem
que eu sou o exército de um homem só