quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Como os nossos pais

Uma coisa típica desse "era" pós-moderna (isso é uma era, ou apenas um hiato no tempo?) é o excesso de referências. Tudo vem descrito através de referências. Como se propostas estéticas só fossem válidas se alguém já tivesse feito antes. Olhem que curiosa inversão de valores... Qualquer release e matéria desfila comparações com artistas consagrados. Como se estivessemos em uma daquelas reuniões publicitárias em que se escolhe que cara vai ter o produto através de outros produtos de sucesso. E não estamos?
É claro que compor é um processo dificílimo, e a música tem padrões repetidos desde que o mundo é mundo. É inevitável que vc repita algum padrão, mesmo involuntariamente. Mas muitas vezes eu ouço músicas como se elas fossem uma versão de uma música já feita. Como fazem em campanhas de publicidade mesmo.
A diferença é que a repetição muitas vezes prima pelo efeito e peca pelo conteúdo. Uma coisa é soar como Johny Cash em um estudio. Outra é ter o efeito sendo criado. Comprei recentemente o disco ao vivo dele na cadeia "at Folsom´s Prison" e é muito provocador. Os que hoje representam um clássico, já foram vanguarda. E agora soamos como clássicos.
A banda mais incensada atualmente é... Beatles. Que já acabaram há mais de 3 décadas.
Bom sinal de que a boa música permanece? Sim. Mas mal sinal de que a música não tem se reinventado muito. Os Beatles já estiveram no auge em seu tempo, falando de seu tempo. John Lennon e seus afiados discursos que o digam.
Citando, quem diria (!), uma capa da veja, vivemos em tempos bons moços. Ou de lobos disfarçados de cordeiros, de novas madonnas e velhos heróis cristianizados. Quem ousa romper com a nossa recente tradição de Caetano, Roberto, Chico ou Bob Dylan, Lennon, Stones?
Nossos heróis são nossos pais. E a música que eles fizeram e eles ouviram.
Já eles, pra ser quem são, desobedeceram bastante os deles.