Misturando duas grandes obras no título posso começar a falar de outro filme do Daren Aronofsky, o polêmico CISNE NEGRO. Ele nem era um dos diretores que mais me interessavam, teve filmes inclusive que parei no meio. Mas nesse recém-nascido blog é a segunda menção a um filme dele. Também porque ele volta a alguns temas de "O Lutador" como a mescla entre vida e palco, fracasso/ sucesso, realização e morte. Mas esse filme tem algo de muito mais perturbador. Ele leva o espectador aos limites de um jogo de sombras, a tal ponto de rachar a plateia. Porque muitas pessoas simplesmente não se deixam levar pelos delirios imagéticos, pelo peso assumidamente barroco da narrativa e rejeitam o filme. Mas essa ousadia de se propor nitidamente aventuras estéticas, de sair do lugar comum, de aceitar tanto a vaia quanto o aplauso é maravilhosa.
Me lembra o tour de force de "Dançando no Escuro", pra mim uma obra-prima em todos os quesitos. Tem o efeito do teatro desagradável de Nelson Rodrigues, suas peças míticas que chegaram a levar gigantescas vaias antes de se tornarem clássicos.
Há muito tempo não sai do cinema tão provocado. Pela força das imagens, pelos abusos kitsch da direção de arte e pela liberdade de encarar as vísceras de uma história de balé já tão batida. Ele mistura a maldição do "Lago dos Cisnes" com a vida da bailarina-princesa. Um arquétipo poderosíssimo da busca anoréxica pela perfeição dos dias de hoje.
Opondo esse modelo vendido até hoje por todos os lados da mocinha de rosinha, perfeita, magérrima, que se encaixa em vestes para desempenhar como uma máquina suas partituras com outro arquétipo muito comum: a femme fatale. Aquela que faz tudo pra conseguir o que quer e usa o sexo pra manipular e conseguir poder.
Nenhuma novidade?
Mas esses vampiros andam a solta, buscando papel principal de diretores consagrados, capas de caderno de cultura, programas de tv, já vi milhares com os mais diferentes disfarces... Não vê quem não quer. Ou quem ainda não quebrou sua redoma de princesa. E o filme resolve escancarar isso de modo expressionista. Aos limites do suportável e nisso ele faz uma dramaturgia simbólica e sentimental. O que guia as ações não são simples causa e efeito, mas a atmosfera sufocante dessa competição desenfreada, dessa busca violenta por um lugar ao sol artificial de um palco vazio.
Bem, já tinha uma letra que ando trabalhando e que vai bem por ai. Voltei do cinema, embrulhado por uma infecção alimentar que me derrubaria alguns dias e fui trabalhar na música.
Você sempre quer o sucesso
faz de tudo pelo sucesso
você faz sexo, perde o nexo,
você faz tudo pra dar certo
tem uma fera na selva que precisa sair
tem algo enterrado
roendo dentro de mim
essa é a resposta tardia ao seu teatro sem palco
este é meu estômago ferido por ser enganado por
sua fotocópia
de declaração de amor
sou o cisne negro
que sorri por trás do espelho
sou um tumor maligno
de seus amores mal-vividos
sou a sombra triste
sou a assombração do seu filme de terror
sou a carapuça
que foi feita sob medida pra
sua fotocópia
de declaração de amor
obs: Quanto ao final do filme, uma pessoa que fez uma figura como Berlam cantar "Morte no Palco" acho que deve ter gostado bastante...