terça-feira, 23 de agosto de 2011

Meu par

E o dia 31 se aproxima.
As músicas saem do caderninho. "Gasolina" já deixou de ser mensagem de celular pra estar na rede:
www.soundcloud.com/pedrogranato

E devo acima de tudo agradecer à minha querida companheira, amada, parceira, meu pilar, meu par:


Meu Par
 
Já perdi a voz e não parei de cantar
Já quis me jogar lá do sétimo andar
Fui pra muito longe
Mas voltei pra contar
Porque no fim da festa
Explodiu meu
Lar
Me perdi
Vou buscar

E aonde cheguei
não vou voltar
Mas pra viver preciso amar
pois pra viver, cresci

Já quis me manter e não parei de mudar
Já quis me mandar, mas fixei no lugar
Fui pro fim do túnel
Não tinha luz
Pra me tirar
De lá
Me afundei
No mal-estar

E mais ninguém
Vai me alcançar
Mas pra viver preciso amar
pois pra viver, cresci

E no escuro
Ergui um muro
Pra me impedir de amar
Até você chegar
Meu par
te convidei pra dançar

E com você
Eu vou ficar
Pois pra viver preciso amar
Pra viver preciso
Um par.


O peso de cada lágrima


Meninos não choram, essa é velha. Mas segue encrustrado na minha formação essa dificuldade em simplesmente deixar as águas rolarem. Todo o processo dessas músicas, apesar de "incendiárias", foram permeados por momentos como esse.
"Tristeza não tem fim, felicidade sim". É cada vez mais eu dou o braço pra torcer pro macaco velho Vinícius de Moraes.


Pode deixar
vou valorizar
cada lágrima

você vai ler
quando eu virar
essa página

o peso que saiu das minhas costas
me mostra agora o quanto você gosta de mim
esse não é o meu fim
vou recomeçar

pode deixar
vou me livrar
de quem te magoar

fica comigo
pois o perigo
não dá pra evitar
vamos ter que nos superar
até ficar em paz

você vai cair
e se levantar
vão se vender
tentar te comprar
mas vamos viver
sem nos separar
de nós

pode deixar
vou iluminar
esse seu olhar
e sem estrelas
no escuro do lar
você vai estar

em paz

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Coração Artificial

Às vezes a nova arte que se faz por essas terras é tão edificante que me sinto numa propaganda de refrigerante. Ou na missa de domingo que eu nunca fui. Talvez seja culpa do meu coração, esse músculo que bombeia sangue pro meu corpo e não consegue ser tão liso, sem arestas. Fico com a constante sensação de superficialidade ao ouvir por tantas vezes a palavra amor falada como quem quer se livrar de todas preocupações. Vestida com roupas antiquadas de tempos inventados, em cidades que não existem. Afinal de contas, não existe amor em sp ou não existem essas cidades idealizadas do amor? Paris não é só a torre eiffel. Na era desses extremismos de tempero religioso sigo sentindo que tem algo fora de lugar. Talvez eu.
Mas não estamos nós constantemente fora de lugar? Ou a música quer ser o confort plus que te envolve com a falsa sensação de conforto?
E se não tivesse o amor e se não tivesse o sofrer, melhor era tudo se acabar?
Adoro músicas sensíveis que muitas vezes dão colo, trazem poesia mas sem ignorar o peso, a densidade dos sentimentos. Me irrita a arte que é feita inteira com sorrisos publicitários assim como me irrita quem gosta de vender a melancolia. A pose calculada de tristeza. Porque as duas se assemelham e se aproximam da artificialidade.
Ai vai uma música feita durante uma febre e a descoberta do amor:

FATAL

forte como a tosse que acaba com meus nervos
quente como a febre que interrompe pesadelos
chulo como a puta que pra todos se insinua
certeiro como a morte, fim de todos seus anseios

fatal
o amor é fatal

pra alguns é doce
formoso e frágil como uma flor
um paraíso, iluminado
sem sentir dor

mas ele vem de foice
ele dá um coice
o amor na prática
é sado-masô

fatal
o amor é fatal

o amor é uma doença contagiosa
por contato
passa pela boca, pelo corpo, pelo olfato
veneno de aparência duvidosa
queima por dentro de suas veias
atrai o que você odeia
te mostra e te assemelha
e sussura quente em sua orelha
- nunca me abandone.


foto que chegou por Ricardo Apparicio

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O DISCO MAIS ESPERADO DO ANO

O DISCO MAIS ESPERADO DO ANO
Eu já tinha ficado bem assustado quando estava ouvindo a trilha de Vertigo e gritaram "Lady Gaga!".
Estava ileso de ouvir a nova 'basura' que a rainha dos tempos-pós-pós-pós lançou.
Mas ai passei por um viral e acabei ouvindo, e era uma cópia fiel de "Express Yourself" da Madonna.
Com a diferença que é aquele urubu passeando de biquini. E li mais de uma vez por ai que é o disco mais esperado do ano. Só se for o disco voador que ela vai botar na cabeça.

VAZOU O NOVO DISCO...
Outra farsa de nossos tempos são esses "vazamentos" de discos. É tão planejado que daqui há pouco vai ter show de vazamento com clipe pronto.
Tudo bem, já que agora ninguém mais compra cd - a não ser esse neo-fetichista aqui, que sofre em ouvir música baixada em alto falante de laptop. É tudo pela internet, sem formato... O termo vazamento é mesmo mais apropriado.

OS DIREITOS SÃO DE DIREITA?
Agora tem uma unanimidade burra (não seria isso uma redundância, tio Nelson?) sobre direitos autorais por ai. O buraco é muito mais embaixo do que "cultura é bem universal, todo mundo pega de graça". Então quem trabalha com isso faz  bolhinha de sabão? Sou absolutamente a favor da defesa dos direitos autorais. Acho sim super complicada a lógica disseminada de que ninguém mais deve pagar por discos. E isso não é um argumento de direita.
Contra fatos não há argumentos, as pessoas baixam. Mas eu me dou o direito de nadar contra a corrente. Se comida, bebida e até atendimento médico são fundamentais e são cobrados, pque a criação artística tem que ser distribuída gratuitamente? Onde baixa horas no estúdio, músicos, impressão de capa, mixagem, masterização? Quem paga a conta? A educação tem que ser pública e de qualidade e pra isso, tem que pagar o professor.
Agora muito diferente de defender os direitos é defender a atual entidade que é "responsável" por isso, o famigerado ECAD. Mas ai vamos com uma lógica bem brasileira de legislar: se o que existe não funciona direito, põe abaixo ou exagera. Se as pessoas não respeitam a proibição de beber e dirigir, aumenta o limite ao invés de mexer na fiscalização. Espetaculariza. Afinal ninguém, nem mesmo um candidato a presidente, vai seguir à risca. É só pra assustar.

OS NOMENALISTAS
Como inventar muitas vezes é dar nome ao que já existe, venho batizar o mais abrangente movimento cultural de nosso país: Os Nome-na-listas. Varre todas as artes. Não sei se vcs já perceberam mas não é nada comum donos de lojas de roupas, restaurantes darem convites por ai. Mas todo mundo quer um convitinho pra algum show/peça. Acho que o nominalismo tem um pé na cultura de que baixar cultura é algo inquestionável.
Os Nomenalistas é um termo que também abrange a febre por outro tipo de lista: as de melhores. Acho que a Jovem Pan fez a cabeça do jornalismo cultural e todo mundo tem suas sete melhores. Não é papo de bichamarga, que de lista só está no analista. Eu sei que parece, mas não é. Eu não sou um NOMENALISTA. Ou melhor, sou sim. Trabalho com isso, pode colocar meu nome na porta que eu vou com prazer.

OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE
Eu poderia citar grandes pensadores, críticos de arte, mas em tempos de redes sociais, resuma em 140 caracteres o seu caráter. Colocar esse padrão de competitividade, de melhor, segundo pior é uma absoluta desconsideração à subjetividade. Você desconsiderar a subjetividade no atletismo, na matemática é uma coisa. Agora desconsiderar a subjetividade nas artes é um atentado grave, porque é a essência da própria arte. A arte é expressão de subjetividades, de múltiplas visões, sensibilidades. Qualquer um pode gostar muito de discos diferentes, de forma diferente. Em fases diferentes. O título não é uma agressão, é uma citação. Dá uma "gugada"...


Eu que me deparo com um novo disco pela frente, já penso: o que fazer com esse formato? Vazar? Baixar? Por enquanto escrevo, componho e gravo, o "exército de um homem só" encontrando seus parceiros. Afinal é impossível ser feliz sozinho, e essa história de misturar vinho com café no jantar tira sono... e põe fogo no coração.

sábado, 9 de abril de 2011

Da arte de falar bem

Essa era pra ser uma música pra cima.
Acabou um pouco melancólica, mas acho que preserva aquele estado sutil de alegria.



Brilho no Escuro

Pode deixar vou valorizar cada lágrima
Você vai ler quando eu virar essa página
o peso que saiu das minhas costas
me mostra agora o quanto você gosta de mim
esse não é o meu fim
vou recomeçar

Pode deixar vou me livrar de quem te magoar
fica comigo pois o perigo não dá pra evitar
vamos nos superar até ficar
em paz

Você vai cair
e se levantar
vão se vender
tentar te comprar
vamos viver
sem nos separar
de nós

Pode deixar vou te iluminar quando a luz faltar
e sem estrelas com brilho no olhar, você vai estar
em paz

segunda-feira, 28 de março de 2011

Caça às Bruxas

Há muito tempo que se critica a Lei Rouanet. Agora começou a caça às bruxas e começaram pela Bethânia. O Bradesco apoiando o Cirque du Soleil com quase 10 milhões aprovados de isenção de imposto (dinheiro público) não fez metade do barulho. Afinal se a Bethânia não precisa de apoio público, que dizer do Bradesco? E do pobre circo internacional, com ingressos a singelos R$370?
Uma distorção não justifica a outra, mas evidencia possíveis interessados no ataque. Até hoje, quem atacava a Lei Rouanet era acusado de "dirigismo cultural". Por querer que os mecanismos de incentivo e suporte a cultura saíssem dos balcões dos bancos e empresas de amigos para editais com visibilidade pública. E quem criticava? A Globo, a Veja... Esses órgãos que passam longe de exercer seu "dirigismo cultural" o quanto podem (sic).
Agora muitos aderiram ao ataque à Lei Rouanet não nos seus bichos papões, mas nos ex-bicho grilos. Ricos agora e que não precisam de tanto apoio público. Digo tanto porque a arte precisa de apoio público sim. Sem dinheiro público é dificil manter casas de cultura, fazer pesquisa, publicar conteúdo pagando seus autores de maneira gratuita.
Ninguém estranha que os cinemas, teatros, casas de show tenham todos nome de banco? Isso pode parecer uma bondade dos maiores fazedores de dinheiro de atualmente, mas é marketing bancado com dinheiro público. E se não fosse esse dinheiro público, provavelmente esses espaços estariam fechados ou em pior condição.
Só que como a condição geral dos artistas brasileiros ainda é infelizmente muito frágil, um exemplo desses serve perfeitamente pra criar um bode expiatório. Todos jogam suas frustrações e salários mal pagos na fogueira que pretende queimar as bruxas muito bem remuneradas. Mas esse fogo pode destruir mais que se imagina.
O que deveria estar em questão são modos mais democráticos e descentralizadores de espalhar esses incentivos. E esse é o questionamento sobre a Lei Rouanet. Não seu linchamento sem algo que a substitua e melhore.
Que bom que as empresas querem patrocinar cultura, o estado deve incentivar. Mas elas também devem botar a mão no bolso.
E o estado tem que botar a mão no bolso para que uma legião de pessoas que trabalha incessantemente por bens culturais que são apreciados por todos, muitas vezes de graça, na rede, tenham condição de fazer o seu trabalho. E que existam espaços e estrutura para público e artistas trocarem.
Quando quiseram simplesmente por abaixo a Embrafilme sem nada que a substituísse, o cinema brasileiro parou. Apenas um filme no ano, realizado por um bom diretor com um uni(co) banco por trás. E na época da Embrafilme, o cinema brasileiro chegou a ter 30% das bilheterias, fato histórico que estamos nos aproximando novamente. Ou seja, é necessário apoio público para que o público tenha direito de selecionar o que gosta. É o oposto de dirigismo cultural: é defender a multiplicidade cultural.
A caça as bruxas e o debate histérico (pra não chamar de linchamento) esconde as maiores questões em toda essa polêmica. A reforma da lei é urgente assim como o apoio estatal às artes. Cultura é como educação e saúde: não pode ficar nas mãos dos bancos, nem no banco dos réus.

maravilhosa capa do cd de Thom Yorke "the Eraser"

segunda-feira, 14 de março de 2011

Perto e Distante

Assino uma parceria com Tiê em seu novo disco "A coruja e o coração". Fizemos a música a partir de uma idéia inicial dela, em uma tarde revezando quem ninava a Liz e quem escrevia. Ela tinha essa melodia crescente para o refrão (que posteriormente foi alterada com ou pelo produtor Plinio Profeta) e algumas idéias e frases antigas sobre a incomunicabilidade. De cara, em um recurso metalinguístico, achei que a questão ficava mais palpável na relação com alguém.
Então jogamos pra dentro de um casal, as diferenças em que mesmo estando muito próximos, estamos distantes - o que justifica a aparente contradição do título da música. Posteriormente, pra minha alegria Jorge Drexler (cantor e compositor uruguaio que lançou recentemente o belo disco "Amar la trama", cheio de belíssimos arranjos de metal e letras bem trabalhadas) entrou na música que se tornou um singelo dueto. O refrão perdeu sua melodia crescente e catártica e se tornou mais cool. O sopro ainda cumpre um pouco esse papel, mas a versão original tem um charme especial. Abrindo também o processo dessa canção, vejam o video que a Tiê me mandou logo após nossa sessão.