Às vezes a nova arte que se faz por essas terras é tão edificante que me sinto numa propaganda de refrigerante. Ou na missa de domingo que eu nunca fui. Talvez seja culpa do meu coração, esse músculo que bombeia sangue pro meu corpo e não consegue ser tão liso, sem arestas. Fico com a constante sensação de superficialidade ao ouvir por tantas vezes a palavra amor falada como quem quer se livrar de todas preocupações. Vestida com roupas antiquadas de tempos inventados, em cidades que não existem. Afinal de contas, não existe amor em sp ou não existem essas cidades idealizadas do amor? Paris não é só a torre eiffel. Na era desses extremismos de tempero religioso sigo sentindo que tem algo fora de lugar. Talvez eu.
Mas não estamos nós constantemente fora de lugar? Ou a música quer ser o confort plus que te envolve com a falsa sensação de conforto?
E se não tivesse o amor e se não tivesse o sofrer, melhor era tudo se acabar?
Adoro músicas sensíveis que muitas vezes dão colo, trazem poesia mas sem ignorar o peso, a densidade dos sentimentos. Me irrita a arte que é feita inteira com sorrisos publicitários assim como me irrita quem gosta de vender a melancolia. A pose calculada de tristeza. Porque as duas se assemelham e se aproximam da artificialidade.
Ai vai uma música feita durante uma febre e a descoberta do amor:
FATAL
forte como a tosse que acaba com meus nervos
quente como a febre que interrompe pesadelos
chulo como a puta que pra todos se insinua
certeiro como a morte, fim de todos seus anseios
fatal
o amor é fatal
pra alguns é doce
formoso e frágil como uma flor
um paraíso, iluminado
sem sentir dor
mas ele vem de foice
ele dá um coice
o amor na prática
é sado-masô
fatal
o amor é fatal
o amor é uma doença contagiosa
por contato
passa pela boca, pelo corpo, pelo olfato
veneno de aparência duvidosa
queima por dentro de suas veias
atrai o que você odeia
te mostra e te assemelha
e sussura quente em sua orelha
- nunca me abandone.
foto que chegou por Ricardo Apparicio