quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

God save the King

Este "exército de um homem só" segue seu propósito de ser uma forma sincera e direta de criação, produção e reflexão. Em tempos de falência das gravadoras, vivemos a apologia ao 'low profile'. Como se os artistas por ai fossem "pérolas" brutas, puras a serem espontaneamente reveladas. Sem ingenuidade, a internet é uma grande rede de interesses e destaques planejados. Diz isso uma pessoa que já teve programa em um portal e sabe como se fazem 100 mil views em um mês. A diferença que um banner no myspace ou no youtube faz é gigantesca. A diferença de uma "invisível" assessoria de imprensa é enorme.
E me parece que ingenuidade é o que mais andamos perdendo por ai. Os artistas tem introjetado em si mesmo os departamentos de marketing, a assessoria e relações publicas das majors. Se antes um artista mainstream da MPB podia se enforcar em excessos enquanto a gravadora cumpria seu trabalho, hoje  estamos - de maneira mais madura - órfãos. Mas isso inclui uma busca mais ávida por relações políticas  no sentido negativo da palavra dentro circuito musical.
O que isso gera em termos artísticos é uma certa anemia. Mesmo com uma multiplicidade de novos talentos e propostas, parece que a necessidade de estar cumprindo todas as funções ao mesmo tempo acaba por tornar a arte de nosso tempo mais receosa, melancólica e apegada a referências.
É muito simbólico que Roberto Carlos tenha se tornado praticamente uma unanimidade nos dias de hoje.  De inimigo da esquerda dos anos 60, a vedete de especial de natal da rede globo (quer coisa mais conservadora que isso?) ele simboliza o artista que não fez concessões pra chegar ao mainstream.
Em termos políticos, estéticos e práticos.
Sua habilidade pra compor músicas intimistas nublou a mediocridade de seu vicio automotivo (metade de seu disco acústico são apologias ao carro), sua nulidade política, sua adesão completa ao que existe de mais cafona e conservador na televisão brasileira.
Os heróis de hoje não morreram de overdose, mas estão no poder, no especial da globo. Como se a ausência de gravadoras onipotentes tivesse despertado um instinto de sobrevivência em que a rebeldia e o aspecto provocador sejam um empecílio.
Buscando o primeiro lugar nos milhares de rankings que se multiplicam.
transformando um pouco disso em letra:

Está na regra desse jogo
escorre da boca do povo


É cada um por si ao fim
e você deve aproveitar do outro
discurso sem recheio
pra ver quem vai primeiro
sorriso até o meio da boca


nossa vida está em jogo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Gasolina

Tai, comecei a gravar algumas coisas com meu parceiríssimo Fil Pinheiro. A primeira música é "Gasolina", que já foi mensagem de celular. Em breve estará na rede e é muito interessante ver como algo que começou de maneira tão íntima pode tornar-se música para todos os ouvidos. Acho que esse também é o proposito desse blog, começar a desafogar muito material que viveu em minha cabeça. Também compus com a queridíssima amiga Tiê uma música pro seu novo disco e hoje tive uma rápida conversa sobre esse processo de gestação. O tempo e o clima em que as músicas ficam orbitando nossa vida até virar um cd e qualquer um poder ouvir aquilo e tomar pra si.
Com relação a todo meu trabalho como "Berlam" que muita gente acha que sou eu até hoje. Essa mistura de linguagens ainda vai demorar a ser entendida, é importante que as pessoas me vejam cantando e compondo pra entender toda proposta do Berlam. Uma persona, um personagem é algo comum pras pessoas de teatro mas quase incompreensível pro meio musical.
E pensar quando começaram e onde foram feitas as músicas do Berlam, algumas há mais de 4 anos como "Carnaval Baixo Astral" me dão a nitida sensação que essa história está apenas começando.
Tenho muita gasolina pra rodar...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Lona

Esse é o titulo de uma das músicas. Já imagino ela com um clipe num ringue de boxe, dois amantes se quebrando inteiros. Ou com aquele clima do magnífico "Lutador", filme que virou de cabeceira. Acho que é cada vez mais comum pensarmos nos videos das músicas, ou as músicas serem criadas a partir de imagens. Essa por exemplo é altamente inspiradora. Essas luzes por trás que ainda sugerem uma atmosfera de show...


tai um tipo de imagem que eu sempre gosto. a tradicional camera que pega o artista pelas costas e mostra a plateia à sua frente. é uma sensação que quem está no palco tem claramente e é incrivel imaginar-se na pele de tantos outros. Tem uma sequencia em "Piaf" em que esse recurso é usado magistralmente. Fundindo o momento de profunda dor vivido por ela e o que ela levou isso ao palco. Catarse.

Aqui um trecho da música. Para um dia ser cantada em um ringue:

Onde está seu amor?
Pois o pano caiu
você deu o seu show
mas no fim
ninguém aplaudiu
e não vou ser eu
que vou te seguir


eu vou sorrir ao ver você cair no chão


sua festa acabou
no chão

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Fogo no Coração

Qual saída de emergência
pro fogo no coração?
porque depois que tudo queima
a gente perde a razão

o que apaga o incêndio?
lágrimas no colchão
porque agora nossa cama
perdeu chama, corpo e paixão

eu acho que eu preciso ir
prum hospital do coração
minhas palavras perdem força
já não sei como é comoção

eu acho que eu preciso ir
prum hospital do coração
minha cabeça pede rumo
já não sei o que é emoção

não adianta insistir
quando alguém quer sair
abra a porta da tristeza
e deixa cair
a lágrima
que apaga o incêndio
a lágrima
que afoga o corpo inteiro

eu acho que eu preciso ir
prum hospital do coração
para bombear
para bombear
meu coração

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Incendiário

Nesses tempos e nessas músicas eu fiquei bem marcado pela imagem de fogo. E pela palavra "coração". Literalmente marcado, pque essas duas figuras se misturam no meu braço há mais de um ano. Poderia chamar um junguiano, um católico e um místico pra comentar os simbolos contidos no fogo. Mas pra mim é uma relação acima de tudo visceral. Outro dia tive um pesadelo bem simbólico de tudo que se passou comigo nos últimos tempos, em que eu explodia um lugar que estava, cheio de figuras conhecidas. Depois, escapando como um incendiário acabei entrando em uma aeronave que sofria toda sorte de acidentes, pousos forçados. Aquela passagem do Clube da Luta em que ele manda o apartamento pelos ares fez muito mais sentido. 
Já o coração, esse clichê que emoldura o romantismo e as comédias românticas (com todas suas diferenças) é esse órgão elástico que realmente põe fogo nas veias. Já senti dores no coração, fisicamente, e sua força é central em momentos de transformação, crescimento, tristeza. Definitivamente essas músicas vão sendo feitas muito mais para desafogar o coração que com malabarismo mentais.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Blecaute

ao vivo em portugal, música do filme "José e Pilar"

Bang Bang

(Anna Turra e Pedro Granato)

Tem tanta coisa escondida aqui
que quando tudo explodir
vai ser um monte
de tralha abandonada
de vida mal-passada
de nada
obrigado, de nada
sim eu te procurei
e te encontrei num filme de
bang bang

aquele tiroteio foi num dia qualquer
que prometia um jantar
você veio até minha casa
e seu papo vazio
foi enchendo o meu saco...

só que eu estava carregado

pode sair que eu vou embora
não olhe pra trás que eu atiro
e pode ser agora

Bang! Bang! Bang! Bang!
filme de bang bang
agora nosso amor está manchado de sangue

domingo, 2 de janeiro de 2011

Caem as máscaras

Você que me invejou por toda vida
vai invejar também minhas feridas
vai achar que toda a minha saída
foi só mais um jogo de cena?

Caem as máscaras da parede
agora se encara de frente
será que você não sente
o peso do seu coração?

seu defeito mais alegre
por mais que sempre negue
não sei como é que consegue
viver usando o outro ao seu lado

agora se olha no espelho
no vazio da sua casa
já não sou mais vidraça
tira a máscara
e fracassa.

Abrindo os trabalhos

Aqui vou exercitar esse "exército de um homem só" que é escrever e compor as músicas de meu novo trabalho. Após alguns anos compondo em parceria e trabalhando com uma banda larga e a persona de Berlam à frente, resolvi fazer um trabalho solo e de cara limpa. Francamente mais confessional, intimista e sentimental. Em breve essas letras se tornarão música aos seus ouvidos, mas por enquanto aproveito o espaço virtual pra preparar esse debut. 

O Exército de um Homem Só

Sei que estou sozinho
e complicado é meu caminho
trago feridas expostas e poucas respostas
estou incerto, inseguro
perdido
está deserto, escuro
mas estou vivo

Então vem
que eu sou o exército de um homem só

Estou desarmado e cansado de atacar
eu só queria encontrar o meu lugar
para baixar a guarda
para arrancar o fardo
e descansar
finalmente
ao seu lado

Então vem
que eu sou o exército de um homem só